Um dos equívocos mais arraigados, no senso comum moderno, é ver a religião como algo fundado em fatores exclusivamente subjetivos, sem nenhuma relevância intelectual.
Assim, ela seria reduzida a crenças sem fundamentos ou a um mero
sentimento interior, confinando-se, portanto, ao domínio do irracional.
Na religião, não haveria o que se pensar, aprender ou saber. É preciso
que se diga, no entanto, que tal concepção equivocada tem suas causas
históricas e sociais, e que também é própria não apenas de seus
inimigos, mas também de pessoas que se consideram sinceramente
religiosas, no entanto, acreditam que a religiosidade é isso mesmo: uma
fuga da realidade para um mundo de fantasia, uma exaltação do
sentimentalismo em detrimento da racionalidade.
Efetivamente,
se a religião tem alguma coisa a ver com a verdade, ela não pode se
reduzir ao sentimento nem à fantasia. De fato, a fantasia não tem
ligação com a verdade, pois esta também não se sente, mas se entende. A
autencidade é objeto de compreensão, não de sentimento nem de
imaginação. E o Cristo ensinou que a experiência religiosa é uma prática
da verdade: «Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres» (Jo
8,32).
O Cristianismo é a religião do Logos: «No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos
era Deus» (Jo 1,1). Assim consta no original grego do Evangelho segundo
São João. "Logos" se traduz por verbo, mas também por razão. O Cristianismo é a religião da razão divina e universal.
O
equívoco do qual falamos, que reduz a religião ao domínio do
irracional, é resultado de dois outros erros: o primeiro é o que faz a
religião depender apenas da fé, de modo que não haveria verdades
religiosas naturalmente acessíveis à razão humana; o segundo é o que
confunde a fé com mera crença. Dessa maneira, para demolir esses erros,
será necessário: (1) mostrar que existem verdades religiosas
naturalmente acessíveis ao conhecimento humano; e (2) expor o conceito
da autêntica fé católica, como virtude teologal, de maneira que esta se
distingua da mera crença.
A
discussão desses dois pontos, que acima indicamos, envolve mais
conteúdo e demanda, muito mais espaço do que podem comportar os limites
de um só artigo. Talvez sejam necessários vários artigos para que
possamos deixar clara a matéria. De qualquer maneira, pretendemos
desenvolver o tema nos próximos artigos a serem publicados, começando
pelo segundo dos pontos indicados. Assim tencionamos, em nossa próxima
comunicação, começar a exposição do conceito de fé como virtude
teologal, mostrando como ela se distingue de uma mera crença.
Rodrigo R. Pedroso
Fonte:cancaonova.com